Porque
será que somos,
sempre, tão contraditórios ?
Porque será que mais magoamos,
a quem queremos mais agradar ?
Porque
será que, então, acreditamos,
na ilusão do primeiro gole,
e nos embriagamos de esperança,
perdendo a ética e a estética,
numa patética dança... ?
Porque
será que procuramos a alegria,
na ironia do segundo gole ?
Porque será que não vemos que a harmonia
nos foge com o terceiro gole ?
Por que
será que a ilusória euforia,
dessa fuga em fantasia,
do álcool que embriaga,
nos leva ao quarto gole...
que a tudo estraga e anestesia... ?
Porque
será que insistimos nessa falsa folia,
que como uma aeronave sem rumo, decola,
levitando, num vôo que arrepia,
sem nos deixar esquecer a dor que nos assola?
E, de
gole em gole, vamos voando,
deixando a vida para trás...
Pois ela nos parece um verdadeiro acinte,
revivendo lembranças,
matando esperanças,
nos tornando frágeis como crianças...
Porque
será que só aterrissamos, afinal,
quando surge na boca - o amargo gosto de metal,
nos relembrando do triste papel,
nos mostrando mais borrões do que pintura,
feitos, que foram, com um bêbado pincel... ?
Porque
será que somente então, verificamos
que o quadro da vida ficou pior,
pois os borrões daquela dor,
só se anuviaram de forma passageira,
que de tão ligeira, retorna em dor ainda maior... ?